O canabidiol (CBD), um dos compostos mais estudados da Cannabis sativa, vem conquistando espaço nas discussões sobre saúde no Brasil e no mundo. Indicado em tratamentos para epilepsia, dor crônica, ansiedade e distúrbios do sono, o CBD tem despertado esperança e também muitas dúvidas. Entre desinformação nas redes sociais e promessas milagrosas, distinguir fato de ficção tornou-se um desafio para pacientes e profissionais da saúde.

Para a médica Dra. Juliana Bogado, especialista em medicina canabinoide, coordenadora acadêmica da EndoPure Academy, a popularização do uso do canabidiol exige seriedade, responsabilidade e senso crítico. “Nem todo produto contendo CBD é automaticamente seguro, eficaz ou adequado para uso terapêutico”, alerta a médica. 

Segundo ela, muitos itens disponíveis no mercado não possuem controle de qualidade, padronização ou rastreabilidade o que pode comprometer tanto a eficácia quanto a segurança do tratamento.

Como separar fatos de desinformação

De acordo com Bogado, há três pontos essenciais para quem busca um tratamento seguro e eficaz com CBD.

O primeiro é optar por produtos regulamentados pela Anvisa, seja por meio de importação autorizada ou fornecedores nacionais com autorização sanitária válida. É fundamental exigir o certificado de análise (COA), que comprova a concentração dos canabinoides e a ausência de contaminantes. “A ausência dessas informações já é um sinal de alerta, e infelizmente grande parte desses produtos não possui esse controle”, reforça.

O segundo critério é buscar fontes de informação confiáveis, como literatura científica revisada, diretrizes clínicas atualizadas e sociedades médicas reconhecidas. “Promessas de cura, alegações milagrosas e linguagem sensacionalista são típicas da desinformação”, explica.

Por fim, o terceiro ponto é o acompanhamento médico especializado. A prescrição deve ser feita por profissionais capacitados, que compreendam a farmacologia dos canabinoides e saibam individualizar o tratamento. “O uso sem acompanhamento pode levar a falhas terapêuticas, interações medicamentosas ou efeitos adversos evitáveis". 

Mitos e verdades sobre o canabidiol

Para ajudar a esclarecer o tema, a Dra. Juliana Bogado respondeu a um questionário com 15 afirmações populares sobre o CBD, classificando-as como mito, verdade ou depende. 

Confira:
 

• O canabidiol causa efeitos psicoativos: Mito. O CBD não tem efeito psicoativo, diferentemente do THC.
• O uso de canabidiol pode causar dependência: Depende. Não há dependência química, mas o uso contínuo pode ser necessário em doenças crônicas.
• Todo produto de cannabis é igual: Mito. Cada formulação tem diferentes concentrações e efeitos terapêuticos.
• O canabidiol é indicado apenas para epilepsia: Mito. Pode ser usado em TEA, esclerose múltipla, ELA, dor crônica e mais.
• CBD pode ser usado por crianças e idosos: Verdade. Desde que haja prescrição e ajuste de dose.
• Produtos com CBD vendidos sem prescrição são seguros: Mito. No Brasil, produtos sem prescrição são ilegais e sem garantia farmacêutica.
• O uso de canabidiol é 100% legal no Brasil: Verdade. Desde que siga as normas da Anvisa.
• Canabidiol e maconha são a mesma coisa: Mito. O CBD é apenas um dos compostos da planta.
• O canabidiol pode substituir medicamentos tradicionais: Verdade. Mas de forma gradual e supervisionada.
• O uso de CBD ajuda em quadros de ansiedade, insônia e dor crônica: Verdade. Estudos apontam melhora significativa nesses casos.
• CBD é eficaz no tratamento de Alzheimer: Verdade. Com evidências promissoras, embora mais estudos sejam necessários.
• Qualquer médico pode prescrever canabidiol no Brasil: Verdade. A prescrição é livre para profissionais registrados.
• O uso de CBD é aprovado apenas em casos graves: Mito. Hoje, a Anvisa permite prescrição para diferentes condições.
• O canabidiol tem efeitos colaterais: Verdade. Eles variam conforme o canabinoide e o paciente.
• Canabidiol serve para prevenir doenças: Verdade. Especialmente doenças neurodegenerativas.

Informação e cuidado caminham juntos

Para Juliana Bogado, a democratização do conhecimento é essencial para que pacientes tenham acesso seguro aos benefícios da medicina canabinoide. “Evitar a desinformação é um ato de responsabilidade. É preciso buscar sempre orientação profissional qualificada e produtos regulamentados”, resume.

Mais do que um tema em alta, o canabidiol representa um avanço na forma como olhamos para o cuidado: com base em ciência, empatia e informação segura.