O avanço da pesquisa sobre cannabis medicinal no Brasil: desafios e perspectivas

Descubra os avanços da pesquisa sobre cannabis medicinal no Brasil em entrevista com a anestesiologista Maria Teresa Jacob. Ela aborda as principais áreas terapêuticas, desafios regulatórios e as evidências científicas mais relevantes sobre o uso medicinal da cannabis no país

Publicada em 19/02/2025

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Imagem Ilustrativa: IA

 

As dores, sejam elas emocionais ou físicas, fazem parte do “sentir” dos seres vivos. É inevitável, mas foi a partir do alívio da dor que surgiu o pontapé inicial dos estudos e pesquisas da cannabis medicinal no Brasil. Quem nos confirmou isso foi Maria Teresa Jacob, anestesiologista, pós-graduada em endocanabinologia, cannabis e canabinoides. Em entrevista ao Sechat, Teresa destacou que, nos últimos anos, os estudos da cannabis têm avançado no país em diversas áreas terapêuticas.

 

 

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Maria Teresa Jacob, é anestesilogista com área de atuação em dor, pós-graduada em endocanabinologia, cannabis e canabinoides. (Arquivo Pessoal)

 


De acordo com Maria Teresa Jacob, a pesquisa sobre cannabis medicinal no Brasil tem progredido significativamente, acompanhando uma tendência global. 

Atualmente, os principais focos de estudo incluem:


- Uso da cannabis no alívio da dor crônica, como artrite, fibromialgia e dor neuropática.
- Tratamento de doenças neurológicas, como epilepsia refratária e doenças neurodegenerativas.
- Aplicabilidade de extratos de cannabis para aliviar sintomas relacionados ao câncer e efeitos colaterais da quimioterapia.
- Investigação sobre os impactos da cannabis no tratamento de transtornos mentais, incluindo ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático (PTSD).
- Estudos em doenças autoimunes, como lúpus e artrite reumatoide.
 

Há tempos a cannabis é utilizada para amenizar esses tipos de dores. É fato que, atualmente, ela está cada vez mais nas buscas de milhares de pacientes do Brasil.


 

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Gissley sofre com dores da Fibromialgia e faz o uso tanto do óleo quanto da pomada à base de cannabis medicinal. (Arquivo Pessoal)

Foi o que aconteceu com Gissley Nalú Elesbão Pereira Tangerino, de 49 anos. Depois de assistir a uma reportagem sobre a ação da cannabis medicinal na Fibromialgia, não hesitou em correr atrás de sanar suas dores. “Eu não aguentava mais tanto desconforto com as dores que sentia, e busquei orientação e consegui o óleo canabidiol através de uma associação”, conta.

A fibromialgia é uma doença crônica que causa dor generalizada, fadiga, insônia e outras consequências. A cannabis medicinal tem sido uma alternativa eficaz para tratar pacientes que têm esse diagnóstico.

“Na primeira semana eu já consegui dormir sem agitação e sem dor, sem falar que o óleo de THC e o CBD me ajudou relativamente dentro do controle da minha ansiedade”, pontua Gissley que faz uso também da pomada feita à base de cannabis medicinal para tratar o lipolinfedema que possui. 
 

 

Evidências científicas e produção acadêmica no Brasil


No campo das evidências científicas, os estudos brasileiros têm demonstrado resultados promissores, principalmente na epilepsia refratária, que conta com colaborações reconhecidas internacionalmente. Além disso, pesquisas sobre dor crônica, esclerose múltipla, câncer e transtornos de saúde mental estão em expansão.


Porém, a anestesiologista enfatiza que, embora o Brasil esteja avançando na produção científica sobre cannabis medicinal, ainda enfrenta desafios consideráveis em comparação com países como Estados Unidos, Canadá e Israel. “O progresso depende de superar obstáculos como regulamentações restritivas, falta de financiamento, estigma social e carência de padronização dos produtos”, pontua Teresa.


Regulamentação e impacto nas pesquisas


A regulamentação da cannabis medicinal no Brasil tem proporcionado oportunidades para a pesquisa científica, gerando maior interesse na área. No entanto, há barreiras burocráticas, financeiras e sociais que ainda dificultam o pleno desenvolvimento dos estudos.


Segundo Maria Teresa Jacob, o diálogo entre pesquisadores, autoridades regulatórias e a sociedade é essencial para permitir avanços significativos. “A continuidade do debate e da educação sobre o tema será determinante para garantir que a pesquisa sobre cannabis medicinal possa atingir seu potencial máximo no Brasil”, ressalta.


Potenciais benefícios e limitações ainda pouco discutidos


Pesquisas nacionais apontam para novos benefícios e desafios do uso medicinal da cannabis, incluindo segurança e eficácia em doenças autoimunes, aplicação no tratamento do burnout, resposta variável entre pacientes e impactos na qualidade de vida. Para Teresa, “essas questões ainda carecem de um volume maior de estudos internacionais e uma maior divulgação na comunidade médica”. 


Apesar dos desafios, os avanços na pesquisa sobre cannabis medicinal no Brasil são notáveis, e a expectativa é que o país continue expandindo seu papel na produção científica e no desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas baseadas em canabinoides.