Professor defende inclusão de fisioterapeutas no tratamento com produtos à base Cannabis

Acórdão COFFITO nº 735/2024 autoriza fisioterapeutas com formação específica a prescrever medicamentos e insumos; Anvisa, no entanto, reconhece apenas médicos e cirurgiões-dentistas como prescritores de cannabis para fins medicinais

Publicada em 25/07/2025

 Quando o fisioterapeuta escuta o corpo com a ajuda da cannabis

Mais saúde mais acesso mais vida com cannabis medicinal | CanvaPro

Quando um fisioterapeuta fala que o corpo é natureza e que para curá-lo é preciso reconectar-se com ela, não está apenas sendo poético. Está sendo profundo, técnico e, acima de tudo, humano. 

Em Balneário Piçarras, Santa Catarina, o fisioterapeuta Luiz Antonio Manso Vieira Júnior transforma a prática clínica em reconexão consigo, com a vida e com a ciência. E no centro desse reencontro está a cannabis.


Um olhar que cuida da função e da vida


 

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Luiz Manso, especialista na área, defende uma abordagem integrada e natural para promover qualidade de vida | Arquivo Pessoal

 

Luiz atua com o que chama de modulação do tônus endocanabinoide, uma abordagem que integra a cannabis medicinal, fitoterapia tradicional, suplementação, controle do estresse e exercício terapêutico. Sua prática, guiada por mais de 2.500 horas de formação, vai além da dor: toca no sono, na ansiedade, na rigidez, na cognição e naquilo que tantas vezes a medicina tradicional esquece de considerar: a qualidade de vida.


“Tratar o Sistema Endocanabinoide é tratar a função. E o fisioterapeuta é, por excelência, o especialista em função”, afirma Luiz, que também é professor em cursos de pós-graduação sobre prescrição de cannabis. 

A conexão com a planta, segundo ele, acontece com a mesma naturalidade dos endocanabinoides que o nosso próprio corpo produz. Uma relação de familiaridade molecular  e, talvez, também espiritual.

Com sólida especialização em Cannabis Medicinal e Cannabis Sativa, Luiz prescreve cannabis medicinal amparado pelo Acórdão COFFITO nº 735/2024. Esse acórdão, publicado em 10 de setembro de 2024, reconhece que o fisioterapeuta detém plena competência para prescrever, administrar e adquirir medicamentos e insumos, incluindo aqueles com diferentes vias, injetável, pressurizada, tópica ou oral, desde que dentro de sua área de formação e sob sua responsabilidade clínica. 


Importante ressaltar que, embora cannabis medicinal ainda seja enquadrada como produto derivado da planta e não medicamento, o acórdão não faz distinção: ambos estão autorizados, desde que prescritos por profissional qualificado. 

Essa segurança jurídica é reforçada por outros marcos regulatórios, como a Resolução nº 380/2010, que reconhece a fitoterapia na fisioterapia, e a RDC nº 940/2024 da Anvisa, que inseriu formalmente a Cannabis sativa L. na Farmacopeia Brasileira, fortalecendo o respaldo científico e legal do cuidado integrativo conduzido por Luiz. 

É importante destacar que a Anvisa permite que apenas médicos e cirurgiões-dentistas prescrevam produtos à base de Cannabis para uso humano, conforme estabelece a RDC nº 327/2019, que regulamenta a comercialização de produtos derivados da planta em farmácias mediante prescrição médica. Já a RDC nº 660/2022 dispõe sobre os procedimentos para a importação individual desses produtos por pacientes mediante prescrição.

No caso de uso veterinário, a prescrição é autorizada exclusivamente a médicos-veterinários, com base na Portaria SVS/MS nº 344/1998, desde que seja feita com receita especial e os produtos estejam devidamente regularizados para uso animal.


Na prática clínica, vidas que voltam a viver


Luiz conta com brilho nos olhos (mesmo que por entre letras e relatos), já viu pacientes com fibromialgia, ansiedade e insônia voltarem a dormir, trabalhar, sonhar. Um ciclo de sofrimento que se rompe quando a cannabis entra como suporte funcional: a dor reduz, o humor se estabiliza, a vida encontra espaço para florescer.


"Já tive paciente com mais de 90% de redução das dores", relembra e alerta: “não existe dose padrão. O Sistema Endocanabinoide é como uma digital, único em cada organismo. Por isso, o monitoramento precisa ser próximo, ético e documentado. CID, plano terapêutico, termo de consentimento: cada detalhe importa”. 


Desafios que ainda respiram preconceito e desinformação


Apesar de todo o respaldo técnico, Luiz encara ainda um dos maiores obstáculos: o preconceito. “Muitos ainda confundem o uso terapêutico com o uso adulto. Para mim, todo uso é terapêutico de alguma forma”, afirma.


A chave, segundo ele, é o preparo: formação continuada, domínio profundo sobre interações medicamentosas e, principalmente, empatia para ouvir e orientar. Fisioterapeutas, assim como médicos, dentistas ou nutricionistas, têm papel vital nessa jornada. E quanto mais profissionais bem preparados, mais caminhos se abrem para que mais pessoas tenham acesso à cannabis e, com ela, à saúde integral.

Um futuro com mais verde e mais vida


Mais fisioterapeutas capacitados, mais gente cuidada com dignidade. Mais ciência ao lado da ética. Mais qualidade de vida como horizonte possível. É isso que Luiz Manso pratica, ensina e planta, todos os dias, com os pés no chão e os olhos no verde da esperança. “Nosso corpo é natureza”, reforça Luiz. E talvez a medicina do futuro, que na verdade já é presente, seja aquela que reencontra na natureza o início de todas as curas.

 

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