Trump troca promotor linha-dura por aliada do CBD: o que isso diz sobre o futuro da cannabis nos EUA?
Trump substitui promotor que ameaçou dispensário por apresentadora ligada ao CBD, em movimento que pode aliviar tensões sobre a cannabis em Washington
Publicada em 13/05/2025

Nomeação de apresentadora ligada ao CBD alivia tensão sobre dispensário de cannabis em DC | Imagem: Divulgação
Em uma decisão que surpreende e, para alguns, alivia pacientes e defensores da cannabis medicinal nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump nomeou a apresentadora da Fox News, Jeanine Pirro, para ocupar interinamente o cargo de procuradora em Washington, DC.
A substituição acontece após o recuo na nomeação de Ed Martin, ex-candidato ao cargo que havia ameaçado um dispensário local de maconha medicinal com um possível processo federal.
Para além da troca de nomes, a mudança reflete um reposicionamento sutil, mas significativo do discurso político em torno da cannabis. Isso porque, ao contrário de Martin, que chegou a questionar publicamente a presença de dispensários mesmo que legalizados, Jeanine Pirro já demonstrou simpatia pelo uso do canabidiol (CBD). Desde 2019, ela integra o conselho da HeavenlyRx, uma empresa voltada ao bem-estar com produtos derivados do cânhamo.
“Meu interesse pelo CBD surgiu da curiosidade, depois de ouvir tantas histórias de pessoas que se beneficiaram”, declarou Pirro.
Ex-juíza e promotora em Nova York, ela admitiu que era cética no início, mas acabou se rendendo às evidências e aos relatos. “Agora entendo que há enormes benefícios fora dos ditames tradicionais da medicina e da indústria farmacêutica”.
Apesar disso, Pirro não é exatamente uma entusiasta da legalização ampla da cannabis. Ela já diferenciou publicamente, inclusive em suas redes sociais, o uso medicinal do consumo recreativo, indicando que sua abertura à pauta tem limites bem definidos.
Do cerco ao diálogo
A saída de Ed Martin do páreo trouxe certo alívio para o setor. O promotor havia se tornado alvo de críticas após enviar uma carta ao dispensário Green Theory, localizado em DC, alertando sobre possíveis violações da lei federal, ainda que o negócio estivesse em conformidade com a legislação local. Segundo Martin, a loja estaria operando a menos de 300 metros de uma escola, o que infringe uma norma federal específica.
Martin, embora tenha afirmado que o fechamento de dispensários não era “prioridade”, também declarou que seu instinto era de que “isso não deveria estar na comunidade”. A frase gerou apreensão entre empresários, pacientes e ativistas, especialmente diante de um cenário em que a cannabis medicinal já é reconhecida por suas contribuições no tratamento de uma série de doenças crônicas.
Entre contradições e avanços
A nomeação de Pirro acontece em meio a contradições dentro da própria Casa Branca. Apesar de Trump ter sancionado, em 2018, a Lei Agrícola que legalizou o cânhamo e seus derivados, seu governo frequentemente adotou discursos ambíguos sobre a cannabis em geral. Em março, por exemplo, a administração republicana classificou a descriminalização da maconha em DC como uma política “fracassada” que teria “aberto as portas para a desordem”.
Ainda assim, para muitos envolvidos com o universo da cannabis medicinal, a troca de um promotor abertamente hostil por uma figura ao menos curiosa e envolvida com o CBD já é vista como um pequeno e importante avanço.
A expectativa agora é observar como Pirro irá se posicionar, na prática, diante dos desafios que envolvem a regulamentação, o cumprimento das leis federais e o respeito às normas locais em um território como o de Washington, DC, onde a cannabis medicinal já faz parte da rotina de muitos pacientes.
Mais do que um movimento político, a decisão de Trump pode ser lida como um reflexo da força crescente do tema na sociedade norte-americana, um tema que já deixou de ser tabu e agora exige, mais do que nunca, clareza, responsabilidade e empatia.