Autismo e Cannabis Medicinal: a ciência e a sociedade caminhando juntas

Descubra como a cannabis medicinal pode auxiliar no tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA), os benefícios relatados por pacientes e as últimas pesquisas sobre o tema no Brasil

Publicada em 02/04/2025

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(Imagem: CanvaPro)

Há tempos o Transtorno do Espectro Austista (TEA) é debatido na sociedade. Isso porque antigamente não se falava como nos dias atuais. Assim como outras pautas, é importante debater os avanços não somente da ciência como também da cultura de toda uma sociedade. A construção de uma “reciclagem” social parte de ações que vamos acompanhando com o decorrer da existência.


O autismo é uma patologia científica que conquistou esse “espaço” social a base de muito estudo e está hoje inserido no dia a dia de todos. Pessoas com esse espectro estão nas escolas, supermercados, comércios, universidades e agora, com o nome devido, elas têm voz para serem, cada vez mais, incluídas.


No Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo, celebrado em 2 de abril, a reflexão se torna ainda mais necessária: como garantir que a inclusão seja, de fato, efetiva e que os tratamentos disponíveis possam melhorar a qualidade de vida dos pacientes e de seus familiares?


Estudos recentes no Brasil sobre cannabis medicinal e TEA


O uso da cannabis medicinal como alternativa terapêutica para pessoas com TEA tem despertado interesse crescente no meio científico e clínico. No Brasil, o Ministério da Saúde tem analisado estudos e relatos clínicos que indicam benefícios do canabidiol (CBD) para o manejo de sintomas característicos do transtorno.


Uma revisão de pesquisas conduzida por especialistas brasileiros aponta que o canabidiol pode auxiliar na redução de crises de agressividade e autoagressão, além de melhorar padrões de sono e diminuir comportamentos repetitivos. Apesar dos avanços, especialistas reforçam a necessidade de mais estudos clínicos controlados para consolidar as evidências científicas e garantir diretrizes seguras para o uso da substância no tratamento de TEA.


 

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O pediatra Flávio Alves explica os motivos de receitar a cannabis medicinal dentro do quadro de espectro autista. (Foto: Arquivo Pessoal)

O pediatra pós-graduado em neurologia infantil e da adolescência, Dr. Flavio Geraldes Alves (CRM 117104 | RQE 43870), presidente da APMC, explica que no Brasil, a cannabis medicinal é indicada nos pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) pensando-se ainda na regulamentação quanto ao uso compassivo.


"Por isso, a indicação é feita principalmente em pacientes maiores de 5 anos de idade, mas pode ser utilizada em menores de 5 anos também, a caráter excepcional. Esses casos envolvem crianças com um transtorno comportamental refratário dentro do espectro autista, ou seja, aquelas que apresentam um alto nível de agressividade, irritabilidade, autoagressividade e ansiedade reverberativa muito grande. Em algumas situações, esses pacientes demonstram agressividade física com frequência significativa, gerando um transtorno que não pode ser controlado apenas com tratamento comportamental", explica o médico.


Ele acrescenta ainda que a recomendação para o uso da cannabis medicinal acontece em casos considerados refratários que é "quando o paciente tentou pelo menos dois antipsicóticos – geralmente os aprovados pelo FDA americano são risperidona e aripiprazol – e não teve uma boa resposta, este é o cenário atual brasileiro".

Cannabis medicinal e autismo: benefícios perceptíveis


Familiares, especialmente mães de crianças com TEA, relatam melhorias significativas com o uso da cannabis medicinal. Embora cada paciente responda de forma individualizada ao tratamento, alguns benefícios são amplamente relatados:


Redução da ansiedade: o CBD possui propriedades ansiolíticas que contribuem para diminuir a ansiedade social, facilitando a interação do paciente com o meio externo.
Melhora do sono: distúrbios do sono são comuns em pessoas com TEA. O canabidiol tem se mostrado um aliado na regulação do sono, proporcionando maior bem-estar ao paciente e sua família.
Controle de comportamentos repetitivos: estudos sugerem que o CBD pode ajudar a reduzir a frequência e intensidade desses comportamentos, promovendo maior estabilidade emocional.
Agressividade e autoagressão: em casos de TEA mais severos, o uso de óleo de cannabis tem demonstrado potencial para controlar episódios de agressividade, sempre com acompanhamento médico especializado.
 

A ciência segue avançando, e a sociedade também. O diálogo sobre novas possibilidades terapêuticas e a ampliação do acesso a tratamentos alternativos fazem parte de um movimento maior: garantir qualidade de vida e inclusão efetiva para todas as pessoas dentro do espectro autista.