Lula aposta no Ministério da Saúde como vitrine política e escolhe Padilha, que tem histórico favorável à cannabis
Presidente busca fortalecer a Saúde como trunfo eleitoral e aposta em Alexandre Padilha, defensor da regulamentação da cannabis medicinal
Publicada em 25/02/2025
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Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca transformar o Ministério da Saúde em uma vitrine política do governo, apostando no fortalecimento da pasta para ampliar sua popularidade. Segundo apuração do jornalista Gustavo Uribe, da CNN Brasil, a estratégia inclui dar mais protagonismo ao ministro Alexandre Padilha, que tem assumido um papel de articulador político e reforçado ações voltadas para a atenção básica e programas populares, como o Mais Médicos.
A movimentação ocorre em meio a desafios na área, como a crise no financiamento do SUS e a pressão por avanços na regulamentação de novas tecnologias e medicamentos. A Saúde, tradicionalmente uma das áreas mais sensíveis para a opinião pública, pode se tornar um dos trunfos de Lula para consolidar sua base política e preparar terreno para as eleições 2026. Embora não haja, até o momento, nenhuma confirmação oficial do governo, a ida de Padilha para a pasta da saúde é considerada certa nos bastidores de Brasília.
Em um vídeo publicado em 2019, época em que atuava como deputado federal do Partido dos Trabalhadores (PT), Alexandre Padilha defendeu que a regulamentação da cannabis no Brasil poderia beneficiar milhões de pacientes e impulsionar a economia nacional, além disso destacou as oportunidades econômicas que o mercado da cannabis poderia oferecer ao país. No vídeo que pode ser visto em seu canal no Youtube, Padilha ressaltou as dificuldades de acesso aos produtos derivados da planta e alertou para a perda de oportunidades no setor.
Acesso restrito e desafios regulatórios
Para as famílias que dependem dos medicamentos à base de cannabis, o cenário é de altos custos e burocracia. Segundo Padilha, “tem muita gente que está se beneficiando com o uso dos medicamentos, dos produtos derivados da cannabis, gente que tinha síndrome epilética, convulsões muito graves, pessoas que fizeram quimioterapia, têm muito enjoo, têm muita dor”.
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Ele destacou que há estudos sobre o uso da cannabis para doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, mas que a regulamentação atual dificulta o acesso. “Hoje, para as pessoas terem acesso a esses produtos no Brasil, tem que ter o advogado, tem que ter autorização da Anvisa, conseguir importação, um custo alto para isso”, afirmou. Em muitos casos, a solução tem sido recorrer à Justiça para conseguir autorização para o cultivo e a extração do óleo por cooperativas.
Padilha criticou a falta de políticas públicas que garantam o direito à saúde: “O Estado brasileiro, que está lá na Constituição, tem que garantir a saúde como direito de todos os deveres do Estado, então o Estado brasileiro precisa mudar a regulamentação atual sobre os produtos da cannabis para que mais pessoas possam ter acesso e a gente possa garantir o alívio ao sofrimento a tantas pessoas”.
Oportunidades econômicas e risco de atraso
Além do impacto na saúde, Padilha destacou o potencial econômico da regulamentação. “Se o Brasil autorizar a distribuição, comercialização e, sobretudo, a produção da cannabis e dos seus produtos aqui no Brasil, nós podemos gerar um grande mercado de novos empregos no nosso país.”
O ex-deputado alertou para o risco de o Brasil ficar para trás no setor: “É um mercado bilionário, o mundo inteiro está entrando nessa e se o Brasil demorar muito para entrar nessa, nós vamos perder os empregos, perder a capacidade de inovação tecnológica, capacidade de fazer estudos”. Ele mencionou ainda que “já tem patenteamento de semente em vários países” e que, sem uma regulamentação ágil, o país poderá enfrentar barreiras de acesso à tecnologia e ao mercado.
O debate sobre a regulamentação da cannabis no Brasil segue em curso, com propostas tramitando no Congresso e discussões sobre os impactos sociais e econômicos da legalização.